Passei o final de semana envolvida num evento de leitura. Muitas cenas me chamaram a atenção. Vi muita gente admirada com o que via, ouvia, sentia. Sim, a leitura transforma situações. Sempre. Uma senhora lia para quatro crianças sentadas em grandes puffs vermelhos. O espaço estava repleto de crianças e adultos com a atenção totalmente voltada para as histórias dos livros que seguravam nas mãos. Ela prendia a atenção do quarteto como se não tivesse nada por perto. Mais tarde, já era noite, não a via mais. Não sabia naquele momento se era professora ou mãe ou simplesmente alguém que resolveu encantar as crianças com algumas leituras. E foram muitas.
Acabava um livro, ela buscava outro disponível nas bancas. No outro dia, domingo, já passava das 11h, olho para o espaço de leitura e vejo novamente aquela senhora. Ela lendo um livro para os pequenos atentos, mas já com vários separados na espera. Fui saber quem era aquela pessoa especial que lia para as crianças. Márcia é o nome dela e os quatro são seus filhos. Paola, Artur, Wellington e Caio estudam na Escola Municipal Sergio Lopes, do maternal ao quarto ano. Moram na Vila Renascença, que fica próximo à escola. Fiquei emocionada com a cena, com a história, com o que o ato da mãe representava. Com certeza, vai ser fundamental na vida daqueles pequenos. Passaram boa parte do domingo perdidos em boas leituras. Uma pessoa simples que é rica em cultura e vontade de fazer diferença na sua vida e dos filhos. Precisamos de Márcias, muitas, milhares. Mas não foi só esta cena que me chamou a atenção no final de semana. Daverlan, muita gente já conhece este grande professor, também estava por lá.
Me emocionei com a história dele, mais ainda quando ele, cego, foi ler uma história para um grupo de crianças. A história lida eu não sei, mas a que eu presenciei vale muito. As crianças ficaram encantadas com ele, nós também. Ele é professor do quinto ano de uma turma em que todos têm visão perfeita, ele também, enxerga muito e longe. Ah, e teve ainda o João, aluno da Escola Reinaldo Coser. João é surdo, mas isso não foi um impedimento para que ele sentasse à frente das crianças e abrisse um livro para ler. Uma experiência e tanto para as crianças que olhavam atentas para os gestos do estudante. A professora Luciana traduzia em voz alta os sinais do João, uma bela história. Foram muitas histórias em dois dias de leitura compartilhada. Uma experiência marcante para quem leu e para quem ouviu. Não importa de que forma leu, não importa de que forma ouviu. As limitações servem para gente grande, criança não tem essas barreiras.
Vi pais lendo para os filhos, crianças lendo para os adultos que passavam apressados pelo corredor e eram "obrigados" a parar ao ouvir um "posso ler pra você?". Como não? Como ficar alheio a uma proposta tão encantadora? Lembrei do imortal Mário Quintana, quando disse que os livros não mudam o mundo, mudam as pessoas e estas sim mudam o mundo. Tenho certeza de que ele poderia estar falando destas cenas que presenciei. Sim, a leitura muda as pessoas, traz conhecimento e o conhecimento dá o poder. O poder de decisão de transformar suas vidas e a dos que vivem ao lado. Como diz o escritor argentino Alberto Manguel, diretor da Biblioteca Nacional Argentina, autor de diversas obras e reconhecido internacionalmente: "Ler é um ato de poder. É por isso que o leitor é temido em quase todas as sociedades". Por um mundo leitor!